Com a intensificação das medidas protecionistas nos Estados Unidos sob a gestão do ex-presidente Donald Trump, como a formalização de tarifas sobre bens importados de diversos parceiros comerciais, os mercados passaram a debater os impactos dessas decisões e o que esperar dos próximos movimentos do governo americano.

A avaliação de Daniel Haddad, Chief Investment Officer (CIO) da Avenue, corretora americana fundada por brasileiros e atualmente sob controle do Itaú Unibanco, é de que essa fase protecionista pode ser superada. Segundo ele, temas mais alinhados às promessas de campanha, como corte de gastos públicos, redução de impostos e desregulamentação, tendem a ganhar destaque à medida que os acordos comerciais forem concluídos.

“A lógica das tarifas faz sentido até certo ponto, porque os EUA têm uma carga tributária menor em comparação com muitos países que adotam barreiras não tarifárias. O problema foi a forma abrupta como isso foi implementado”, afirma Haddad.

Após a reação negativa inicial do mercado, o governo norte-americano concedeu um prazo de 90 dias para ajustar as tarifas, o que acalmou os ânimos temporariamente. A expectativa é que, passado esse período, os investidores voltem a se concentrar nos aspectos mais construtivos da política econômica americana.

Alta volatilidade e expectativa de juros

A guerra comercial gerou alta volatilidade nos ativos dos Estados Unidos — em abril, os níveis observados só foram comparáveis a períodos de crise como a pandemia da Covid-19, a crise do subprime em 2008 ou os atentados de 11 de setembro de 2001. Ainda assim, os efeitos sobre os ativos, segundo Haddad, foram menos danosos do que se temia inicialmente.

Uma pesquisa do Bank of America (BofA) mostra que, desde fevereiro, o principal fator de preocupação entre gestores de fundos profissionais é o embate comercial internacional. Além disso, a incerteza sobre os rumos da política monetária americana também influencia as expectativas dos investidores.

Embora a projeção mais recente do mercado aponte para três cortes de 0,25 ponto percentual nos juros até o fim de 2025, há divergências importantes entre os próprios membros do Federal Reserve (Fed). Haddad cita dados de março: quatro integrantes do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) estimavam taxa entre 4,25% e 4,5%, enquanto outros dois previam algo entre 3,5% e 3,75%. No longo prazo, as projeções variam de 2,5% a 4%.

“Essa grande dispersão nas expectativas impacta a economia dos EUA e, por consequência, os ativos globais”, pontua o executivo.

Inflação, crescimento e riscos à frente

O Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA recuou 0,3% no primeiro trimestre, reflexo de uma antecipação nas importações por parte das empresas. Ainda assim, Haddad reforça que os dados do consumidor continuam fortes, com baixo nível de endividamento das famílias e um comprometimento da renda com juros historicamente baixo.

A inflação, outro foco de atenção, segue sob controle, mas Haddad alerta para riscos ligados à imigração. Atualmente, cerca de 18% da força de trabalho americana é composta por imigrantes. Uma eventual queda significativa nessa participação pode pressionar os salários e, consequentemente, a inflação.

Por outro lado, a queda nos preços das commodities ajuda a conter a alta dos preços.

Eleições e política fiscal no radar

Com as eleições legislativas marcadas para daqui a um ano e meio, Haddad acredita que Donald Trump — caso retorne ao poder — terá pouco espaço para adotar medidas que provoquem alta da inflação. A perda da maioria republicana no Congresso dificultaria significativamente a aprovação de reformas.

Por que diversificar internacionalmente?

Haddad defende que o investidor brasileiro deve internacionalizar parte do seu patrimônio, mesmo diante da possibilidade de uma desaceleração nos EUA. Ele destaca que, em todas as últimas sete crises globais, o dólar se valorizou frente às moedas emergentes.

Durante a quebra do Lehman Brothers em 2008, por exemplo, o Ibovespa caiu 49%, enquanto o dólar subiu 41% em relação ao real. Isso reforça a tese de proteção cambial.

“Se os EUA entrarem em recessão, o impacto será global. O país continua sendo a locomotiva do mundo”, afirma.

De acordo com o executivo, o brasileiro ainda é um dos investidores menos internacionalizados do mundo. Apenas 1% a 2% do patrimônio pessoal, em média, está alocado no exterior.

Estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) indica que entre 16% e 18% dos custos do consumidor brasileiro estão atrelados a moedas fortes. Isso, segundo Haddad, deveria ser o percentual mínimo de alocação cambial. Ele ainda destaca que famílias mais ricas enfrentam uma inflação percebida muito superior ao IPCA.

Mesmo o CDI, considerado seguro, líquido e rentável, entregou desempenho inferior ao dólar na última década, com rentabilidade média de 4%.

Considerações finais

A conjuntura econômica dos Estados Unidos envolve diversos fatores interligados — da guerra comercial à política monetária, passando pela inflação, emprego e perspectivas eleitorais. Em meio a esse cenário de incertezas, cresce a relevância de uma carteira de investimentos diversificada, com exposição internacional como forma de proteger e potencializar o patrimônio.

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