Você já parou para pensar quanto valem seus dados pessoais? Nome, CPF, localização, hábitos de consumo, histórico de buscas… tudo isso tem grande valor para empresas. E agora, o governo brasileiro quer permitir que os próprios cidadãos possam vender essas informações diretamente — de forma legal, consciente e remunerada.

Essa é a proposta de um novo projeto desenvolvido pela Dataprev (empresa estatal de tecnologia da informação), além de um Projeto de Lei Complementar (PLP 234/2023) que avança na Câmara dos Deputados.

O que significa “vender seus dados”?

Na prática, o projeto prevê que os brasileiros poderão autorizar o uso de seus dados pessoais por empresas em troca de benefícios financeiros ou vantagens diretas, como descontos em produtos ou acesso a serviços.

A ideia central é dar ao cidadão controle sobre suas informações, transformando algo que hoje é explorado sem retorno direto ao titular em uma possível fonte de renda.

Segundo a Dataprev, a proposta ainda está em fase inicial, mas deve criar uma plataforma que facilite essa negociação entre o cidadão e as empresas interessadas.

O que diz o PLP 234/2023?

Enquanto isso, no Congresso Nacional, o PLP 234/2023 propõe a criação do Ecossistema Brasileiro de Monetização de Dados. O objetivo é mais amplo: regulamentar a coleta e o uso de dados por grandes empresas, garantindo que os titulares (ou seja, os cidadãos) participem dos lucros gerados com suas informações.

Alguns pontos do projeto:

  • Empresas com mais de 50 mil usuários e grandes receitas deverão pagar um imposto específico (entre 10% e 12%) sobre a receita obtida com dados pessoais;

  • Os usuários poderão receber uma parcela do valor gerado pela exploração de seus dados;

  • O ecossistema será supervisionado para garantir transparência e consentimento explícito.

 Mas e a privacidade?

Tanto o projeto da Dataprev quanto o PLP mencionam a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) como base legal. Isso significa que nada poderá ser feito sem o consentimento do cidadão, e haverá limites claros para o uso das informações.

Além disso, especialistas em direito digital alertam que será preciso garantir que o processo seja seguro, voluntário e reversível, para evitar abusos ou exploração das camadas mais vulneráveis da população.

 O que dizem os críticos?

Apesar de promissor, o projeto levanta preocupações:

  • Quem vai realmente lucrar? Há risco de que apenas grandes plataformas concentrem os ganhos;

  • Como garantir transparência nas transações? Será necessário um sistema robusto de auditoria;

  • Populações mais pobres poderão ser exploradas? Pessoas em situação de vulnerabilidade podem se sentir pressionadas a ceder seus dados em troca de pequenas recompensas.

 Oportunidade ou armadilha?

O avanço desse projeto representa uma mudança significativa na forma como encaramos nossos dados. Se bem estruturado, pode dar voz e poder ao cidadão na economia digital. No entanto, se for mal regulamentado, pode ampliar desigualdades e abrir brechas para abusos corporativos.

Por isso, o debate precisa ser público, acessível e com participação da sociedade civil. Afinal, os dados são seus — e o futuro digital também.

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